Translate

sábado, 16 de abril de 2016

O DIA DEPOIS DE AMANHÃ



Não importa qual seja o resultado da votação na Câmara na noite do domingo 17 de abril de 2016, o Brasil irá acordar na segunda-feira com uma bruta ressaca de quarta-feira de cinzas e uma enorme dor de cabeça em um dos lados do crânio.

Se a aprovação para o processo do Impeachment da presidente Dilma Rousseff fizer com que ele siga para o Senado, isso não significará que ela desaparecerá em um passe de mágica e que o vice Michel Temer assumirá seu cargo imediatamente.

Se o processo não seguir para o Senado, também não significará que o governo retomará o seu rumo como se nada tivesse acontecido e que a ocupante do Palácio do Planalto será deixada em paz para conduzir o país a um paraíso onde corre o leite e o mel, com o vice voltando a exercer seu papel decorativo com cara de paisagem.

Caso o processo seja aprovado pela Câmara e siga para o Senado, o balcão de negócios em que foram transformados o Palácio do Planalto e o Palácio do Jaburu verá uma movimentação de feira livre até meados de maio, com cargos sendo oferecidos em troca de apoio para qualquer dos dois lados.

Tanto o partido da presidente quanto o do vice são useiros e vezeiros nesse jogo e prometem até vender a mãe se isso for necessário para manter o poder. Não se sabe, porém, se depois de eleitos entregariam a encomenda.

Essa disputa que deveria ser um processo normal dentro da constitucionalidade, no final de contas virou uma eleição indireta como a que disputaram Paulo Maluf e Tancredo Neves em 1985.

Temer só assumiria interinamente se 41 senadores aprovassem a continuidade do processo, afastando a presidente por 180 dias, dispondo ela de 20 deles para sua defesa. 

Após esse período, se 54 senadores decidirem por seu afastamento definitivo, então o vice passará a ser o titular do mandato presidencial.

Nesse cenário hipotético, Michel Temer, com todos seus acordos firmados, nomeará ministros e funcionários do segundo, terceiro, quarto e quinto escalões com todo o direito que a nossa Constituição lhe concede e tentará reorganizar as grandes empresas para que voltem a construir e produzir, reduzindo assim o desemprego e buscando uma estabilização da moeda, mesmo com o sacrifício da população.

E com os derrotados gritando em altos brados pelas ruas que “foi golpe, foi golpe, foi golpe”!

No segundo cenário hipotético, se Dilma Rousseff se mantém no cargo, muito provavelmente tentará novamente trazer o ex-presidente Lula para o governo.

O que, no final das contas, será muito parecido com o que fez Héctor Campora na Argentina em 1973 quando, após ser eleito presidente, renunciou 49 dias depois para convocar as eleições que foram vencidas pelo ex-ditador Juan Domingos Peron, tendo sua mulher Isabelita como vice.

Com a morte de Peron no ano seguinte, Isabelita demonstrou não ter nenhuma capacidade de articulação política e foi derrubada em 1976 por um golpe militar que lançou a Argentina numa das mais sangrentas ditaduras da América Latina.

Na prática, a presidente Dilma não precisará fazer como Campora e entregar a faixa para o seu antecessor. Como Ministro da Casa Civil ele será o chefe de governo de fato enquanto ela se manterá como Chefe de Estado e o baile seguirá como num sonho pleno de estrelinhas.

Mas a realidade tem mania de contradizer os mais belos sonhos dos ratos e dos homens...

Em um terceiro cenário hipotético, se o Supremo Tribunal Eleitoral chegasse à conclusão de que a chapa Dilma/Temer ganhou com dinheiro sujo e métodos escusos, ambos teriam seus mandatos cassados e iriam responder criminalmente perante a Justiça. O Presidente da Câmara, Eduardo Cunha, assumiria o governo convocando novas eleições.

Para as quais, é de se supor, o ex-presidente Lula já seja candidato desde criancinha.

Mas isso, só se a cassação ocorresse até o final de 2016. Se for em 2017, as eleições serão indiretas, como nos tempos da ditadura!


Recomendo, pois, aumentar em casa o estoque de analgésicos, remédios para o fígado e antiácidos, pois os dias depois de amanhã prometem ser plenos de náusea, dor de cabeça e muito embrulho no estômago. 

4 comentários:

  1. Eu espero que acordemos, todos, melhores eleitores. Mais críticos, mais conscientes de que precisamos torcer pela nação. Jamais por um partido ou pessoa. Não sendo assim, nunca vamos sair dessa idade média dos tempos modernos em que vivemos.

    ResponderExcluir
  2. Sim, Regina. O processo democrático é constante e os erros servem para balizar os acertos. Enquanto a política for considerada como uma disputa de futebol ou um concurso de Miss Simpatia, a probabilidade de errar será grande. Mas acredito que o tempo aperfeiçoa a nossa situação sócio-política.

    ResponderExcluir
  3. ... Eu acordei com uma bruta ressaca!

    Parece que o Brasil começou a ver a cara dos brasis.
    Bizarrice de toda qualidade, no aspecto, na ideologia (ou na falta de uma), entre outros.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Existe a necessidade de se reformar o sistema eleitoral brasileiro, Canto da Boca. Muitos daqueles deputados chegaram lá através do "coeficiente eleitoral", um mecanismo que permite que você vote em Zé mas eleja João, porque Zé teve mais votos que o necessário e esses votos foram distribuídos pelos outros candidatos do partido. Então, além da bizarrice, tem a malandragem eleitoral! É de dar ressaca, mesmo.

      Excluir

Caros amigos e amigas: sintam-se a vontade para comentar. Abraços!