Não importa qual seja o resultado da votação na Câmara na noite do domingo 17 de abril de 2016, o Brasil irá acordar na segunda-feira com uma bruta ressaca de quarta-feira de cinzas e uma enorme dor de cabeça em um dos lados do crânio.
Se o processo não seguir para o Senado, também não significará
que o governo retomará o seu rumo como se nada tivesse acontecido e que a
ocupante do Palácio do Planalto será deixada em paz para conduzir o país a um paraíso
onde corre o leite e o mel, com o vice voltando a exercer seu papel decorativo com
cara de paisagem.
Caso o processo seja aprovado pela Câmara e siga para o
Senado, o balcão de negócios em que foram transformados o Palácio do Planalto e
o Palácio do Jaburu verá uma movimentação de feira livre até meados de maio, com
cargos sendo oferecidos em troca de apoio para qualquer dos dois lados.
Tanto o partido da presidente quanto o do vice são useiros e
vezeiros nesse jogo e prometem até vender a mãe se isso for necessário para
manter o poder. Não se sabe, porém, se depois de eleitos entregariam a
encomenda.
Essa disputa que deveria ser um processo normal dentro da
constitucionalidade, no final de contas virou uma eleição indireta como a que
disputaram Paulo Maluf e Tancredo Neves em 1985.
Temer só assumiria interinamente se 41 senadores aprovassem
a continuidade do processo, afastando a presidente por 180 dias, dispondo ela de
20 deles para sua defesa.
Após esse período, se 54 senadores decidirem por seu
afastamento definitivo, então o vice passará a ser o titular do mandato
presidencial.
Nesse cenário hipotético, Michel Temer, com todos seus acordos
firmados, nomeará ministros e funcionários do segundo, terceiro, quarto e
quinto escalões com todo o direito que a nossa Constituição lhe concede e
tentará reorganizar as grandes empresas para que voltem a construir e produzir,
reduzindo assim o desemprego e buscando uma estabilização da moeda, mesmo com o
sacrifício da população.
E com os derrotados gritando em altos brados pelas ruas que “foi
golpe, foi golpe, foi golpe”!
No segundo cenário hipotético, se Dilma Rousseff se mantém
no cargo, muito provavelmente tentará novamente trazer o ex-presidente Lula
para o governo.
O que, no final das contas, será muito parecido com o que fez
Héctor Campora na Argentina em 1973 quando, após ser eleito presidente,
renunciou 49 dias depois para convocar as eleições que foram vencidas pelo ex-ditador
Juan Domingos Peron, tendo sua mulher Isabelita como vice.
Com a morte de Peron no ano seguinte, Isabelita demonstrou
não ter nenhuma capacidade de articulação política e foi derrubada em 1976 por
um golpe militar que lançou a Argentina numa das mais sangrentas ditaduras da
América Latina.
Na prática, a presidente Dilma não precisará fazer como
Campora e entregar a faixa para o seu antecessor. Como Ministro da Casa Civil
ele será o chefe de governo de fato enquanto ela se manterá como Chefe de
Estado e o baile seguirá como num sonho pleno de estrelinhas.
Mas a realidade tem mania de contradizer os mais belos
sonhos dos ratos e dos homens...
Em um terceiro cenário hipotético, se o Supremo Tribunal Eleitoral chegasse à conclusão de que a chapa
Dilma/Temer ganhou com dinheiro sujo e métodos escusos, ambos teriam seus
mandatos cassados e iriam responder criminalmente perante a Justiça. O
Presidente da Câmara, Eduardo Cunha, assumiria o governo convocando novas
eleições.
Para as quais, é de se supor, o ex-presidente Lula já seja candidato
desde criancinha.
Mas isso, só se a cassação ocorresse até o final de 2016. Se
for em 2017, as eleições serão indiretas, como nos tempos da ditadura!
Recomendo, pois, aumentar em casa o estoque de analgésicos,
remédios para o fígado e antiácidos, pois os dias depois de amanhã prometem ser
plenos de náusea, dor de cabeça e muito embrulho no estômago.
Eu espero que acordemos, todos, melhores eleitores. Mais críticos, mais conscientes de que precisamos torcer pela nação. Jamais por um partido ou pessoa. Não sendo assim, nunca vamos sair dessa idade média dos tempos modernos em que vivemos.
ResponderExcluirSim, Regina. O processo democrático é constante e os erros servem para balizar os acertos. Enquanto a política for considerada como uma disputa de futebol ou um concurso de Miss Simpatia, a probabilidade de errar será grande. Mas acredito que o tempo aperfeiçoa a nossa situação sócio-política.
ResponderExcluir... Eu acordei com uma bruta ressaca!
ResponderExcluirParece que o Brasil começou a ver a cara dos brasis.
Bizarrice de toda qualidade, no aspecto, na ideologia (ou na falta de uma), entre outros.
Existe a necessidade de se reformar o sistema eleitoral brasileiro, Canto da Boca. Muitos daqueles deputados chegaram lá através do "coeficiente eleitoral", um mecanismo que permite que você vote em Zé mas eleja João, porque Zé teve mais votos que o necessário e esses votos foram distribuídos pelos outros candidatos do partido. Então, além da bizarrice, tem a malandragem eleitoral! É de dar ressaca, mesmo.
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