Há mais de dois mil anos os gregos definiram que a Democracia (Demo=Povo + Cracia=Governo) é o governo do povo, com o povo e para o povo.
Hoje em dia, porém, parece que temos
uma democracia customizada, que pode ter um corte diferente, ser mais apertada
nas mangas, mais solta nas pernas, mais comprida ou mais curta, com bolsos cada
vez maiores e, de preferência, sempre ter as costas mais largas.
Churchill afirmava que ela era a
pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram
experimentadas; Millôr (sempre ele) dizia que nada garante que dez idiotas
juntos decidam melhor que um idiota sozinho.
A Democracia exige que, como num
condomínio, quem não compareceu à Assembleia Geral Ordinária ou que não aprovou ou não
pôde impedir a aprovação de uma proposta, deve aceitar a decisão da maioria dos
condôminos.
Mas se o síndico começar a fazer
uma administração desastrosa, convoca-se uma Assembleia Geral Extraordinária e
ele pode ser removido do cargo se a maioria assim decidir através de um processo que obedeça à sua Constituição, no caso, a Convenção do Condomínio.
Retirar Getúlio Vargas do poder
em 1945 foi um ato democrático e patriótico, pois como podíamos ter ido lutar numa
guerra contra os fascistas e aceitar um fascista na direção do nosso Condomínio
Federal?
No entanto Vargas continuou com
sua popularidade em alta mesmo durante seu exílio cinco estrelas no seu sítio
de São Borja. Era criador dos dois partidos que representavam o empresariado
(PSD) e os trabalhadores (PTB) e voltou carregado nos braços do povo através de
uma eleição legítima em 1950.
Sem o poder do arbítrio, porém, perdeu
as rédeas do poder, passou a ser questionado pela oposição da UDN (que
representava as oligarquias alijadas do poder pelo golpe de 1930), restando-lhe
como saída uma bala no peito para abrir o caminho da sua entrada na História.
Seria Vargas de direita ou de
esquerda? Seria ele um democrata, um autocrata, um populista, um estadista, um
demagogo, um líder popular ou apenas mais um dos ditadores daqueles tempos,
como Fulgêncio Batista, Peron, Salazar, Franco, Hitler, Mussolini e tantos outros
mais?
Getúlio era um produto da sua
época e soube usar a força da comunicação (e da censura) a seu favor. Chegou ao
poder através de um golpe (1930), tornou-se ditador através de outro (1937),
foi afastado por mais um golpe (1945) e não soube lidar com os mecanismos
democráticos que surgiram depois da Constituição de 1946.
O golpe de 64 foi fruto dos
interesses de russos e norte-americanos na Guerra Fria após a adesão de Cuba ao
Bloco Soviético e rasgou em pedaços a Constituição do Brasil para afastar PSD e
PTB do poder, usando para isso a UDN e os militares remanescentes da Revolução
Tenentista (já tornados generais) de 1930.
Os mesmos que haviam antes tentado
derrubar Juscelino Kubitscheck, não o fazendo então porque as condições
internacionais não estavam nem tranquilas nem favoráveis.
O processo de Impeachment de
Fernando Collor, motivado por um escândalo de corrupção no valor de oito
milhões de dólares (!) e um Fiat Elba, seguiu todos os trâmites estabelecidos
pela Constituição de 1988, sendo ele afastado
do cargo, perdendo seus direitos políticos por oito anos.
Nada mais natural que agora este ex-presidente se posicione a favor da ideia de que o processo de Impeachment é um golpe.
Se assim ficar provado, ele
também teria sido vítima de um golpe e poderia até mesmo, em um momento de
delírio, exigir o cumprimento do restante do seu mandato, o que não seria
surpreendente na lógica absurda que atualmente parece nortear a política
nacional.
A nossa Democracia é
representativa e se não colocamos no Congresso Nacional representantes em quem
podemos confiar, é problema de todos e responsabilidade de quem neles votou.
Agora não adianta chorar o voto
derramado.
Seja qual for o resultado do
processo de Impeachment ora em curso, não teremos tempos tranquilos, pois mesmo seguindo todos os trâmites legais, dificilmente o resultado da votação na Câmara e no Senado será aceito como sendo a expressão da vontade popular.
Às vezes a gente fica pensando se, na Democracia brasileira, o Demo não seria outro que não o povo...
O horizonte que se vislumbra não é dos mais tranquilos, entretanto "alea jacta est".
ResponderExcluirE que tenhamos nervos de aço (e não tempos de aço) e maturidade democrática, para sobrevivermos ao cataclisma político que se anuncia.
Como podemos apenas viver um dia de cada vez, estejamos atentos para que a democracia não se perca durante a travessia do Rubicão!
ResponderExcluir