Não votei em Michel Temer.
Nem tampouco votei para Eduardo
Cunha ser o Presidente da Câmara, nem para Renan Calheiros ser o Presidente do
Senado e também não nomeei Ricardo Lewandowski, Teori Zavascki, Dias Toffoli
nem qualquer dos outros muito dignos Ministros do Supremo Tribunal Federal.
No entanto, como cidadão
republicano submetido à Constituição do Brasil, aceito o direito que eles têm
de ocuparem os postos para os quais foram eleitos ou nomeados e reconheço sua autoridade
perante o povo para exercer as responsabilidades inerentes aos seus cargos.
Acho engraçado que quem votou e
elegeu Michel Temer e também concordou com as indicações e nomeações do governo
do qual ele é parte, agora queira colocá-lo como um representante das oposições
(coisa que ele não é nem nunca foi) e questione a qualidade moral da linha de
sucessão presidencial.
Quando Jânio Quadros, numa
ressaca histórica, “rebolou no mato” o mandato que o povo lhe conferiu, os
militares pressionaram o Congresso que, vergonhosamente e sem consultar o povo,
não respeitou a Constituição e transformou num passe de mágica casuística o
regime de Presidencialista para Parlamentarista, nomeando um Primeiro Ministro
para assim impedir o exercício pleno da presidência pelo vice João Goulart.
Jango conseguiu reaver seu
mandato presidencial através de um plesbicito, mas foi derrubado um ano depois
pelo golpe de 64, com o Brasil adentrando o longo túnel da ditadura militar que
obscureceu a vida política do país por vinte anos.
O Marechal Deodoro foi outro que,
bem antes, no alvorecer da República, renunciou ao mandato num rompante
temperamental e abriu caminho para que seu vice, o também marechal Floriano
Peixoto, implantasse um regime positivista que só não foi a Era do Terror da
Revolução Francesa porque não tinha armado em praça pública o instrumento
criado pelo Dr. Guillotin.
Com o suicídio de Vargas, o vice
Café Filho assumiu a presidência e levou o país em segurança até as eleições de
1955, que colocaram Juscelino Kubitscheck no poder.
Já quando o general Costa e Silva
teve um derrame (oito meses depois de editar o Ato Institucional N° 5), os
militares impediram a posse do vice Pedro Aleixo e colocaram em seu lugar uma
Junta Militar que acabou por “eleger” o general Médici para ser o presidente de
plantão.
Tancredo Neves, eleito
indiretamente pelo Colégio Eleitoral, morreu sem provar o gostinho de segurar a
caneta do poder, sendo substituído por seu vice José Sarney, que, bem ou mal,
fez a transição do regime militar para a democracia civil.
Com o Impeachment de Fernando
Collor, seu vice, Itamar Franco - nosso Forest Gump mineiro - assumiu o cargo e
conseguiu acabar com a espiral inflacionária através do Plano Real, levando o
país até a eleição presidencial seguinte.
Não há novidade na História do
Brasil, portanto, no fato de um vice assumir o mandato presidencial no caso do
titular renunciar, se suicidar, morrer de diverticulite ou sofrer um
“impichamento”.
Se o impeachment da presidente
Dilma Rousseff não for aprovado nem no Plenário da Câmara e nem no Senado
Federal, Temer continuará seu mandato de vice decorativo, como ele mesmo se
definiu; se o impedimento da presidente for aprovado, ele deve ser empossado
com o direito que lhe confere a Constituição.
Eu só posso esperar que, se for
esse o caso, ele tenha consciência histórica e consiga juntar os cacos de tudo
isso que aí está, fazendo um governo de coalizão que leve a nossa vaca para
fora do brejo.
Se ele conseguir, ficarei muito
feliz e estarei na torcida para que o Brasil dê certo.
Se não conseguir, pelo menos me restará o consolo de saber que ele não chegou lá através do meu voto.
Acho que a baixa representatividade de Temer enquanto liderança política, de fato, não controversa a legalidade de um eventual mandato dele. No entanto, tenho concordado com a tese sobre a legitimidade das Eleições 2014. O marqueteiro que fez a campanha está preso. Os empreiteiros e o banqueiro que a financiaram também. Até o lobista e o tesoureiro que operaram o caixa dois da campanha (que oficialmente gastou R$ 318 milhões). Isso sem falar no estelionato eleitoral, pra mim claramente configurado com a represagem dos preços administrados para controlar artificialmente a inflação, a contabilidade criativa e a alegação da "ameaça" que "eles" iriam retirar as conquistas que "nós" "demos" ao "povo". O ideal (a utopia move) era a cassação da chapa Dilma-Temer no TSE. A partir daí, a gente escreveria uma outra história - esta também nenhuma outra novidade na história política do país - sobre as novas eleições convocadas após o impeachment e a cassação. Acho que oferecer às pessoas uma alternativa pra tirar a gente desse buraco é melhor do que assistir a continuidade deste governo (que é o que, na prática, para mim, Temer e o PMDB representam).
ResponderExcluirSim Anônimo(a), todos esses motivos justificariam uma anulação da chapa. Mas o Impeachment está dentro do processo constitucional e é o que os poderes constituídos podem fazer neste instante. Haverá uma certa continuidade, sem dúvida, mas a situação se assemelha, em minha opinião, ao governo Sarney. No momento, Temer é o que Temos; Sarney era o que tínhamos. Depois, o processo continuará correndo e, como diria Jack, iremos por partes. Se as denúncias se comprovarem, o STF terá que agir e aí não será mais uma decisão política (como o Impeachment), mas sim, jurídica e criminal. Mas se fôssemos esperar o início de um processo de cassação da chapa, ia demorar mais uns dois anos, creio eu. Basta ver a lentidão do processo de cassação do Eduardo Cunha! Abraço!
ResponderExcluir