O que mais me impressionou durante a votação da
admissibilidade do pedido de Impeachment da Presidente Dilma Rousseff no
domingo, 17 de abril de 2016, foi constatar que eu desconhecia 90% dos
deputados na Câmara Federal.
Um desfile de criaturas bizarras, dedicando seu voto a papai,
mamãe, burrinho e Tia Dindinha, mas que chegaram ali através do voto popular e são
os legítimos representantes dos eleitores deste país.
Concordando ou não com suas posições, somos forçados a
admitir que eles são fruto dos setores que compõem a nossa sociedade, seja esse
o setor dos gozadores que elegem um comediante de televisão ou daqueles que
votam em um representante dos torturadores do golpe de 64 ou ainda das pessoas
que tem nas questões de gênero suas principais reivindicações.
A presidente Dilma, assim como eu e a maior parte dos
brasileiros, só veio conhecer a maior parte desses parlamentares no dia da
votação da admissibilidade, quando ela precisou do seu apoio para tentar barrar
a aprovação do processo contra seu governo na Câmara dos Deputados.
Mas aí, já era tarde.
Muitos deles se declararam estupefatos quando foram ao
Palácio do Planalto para negociar seu voto com a presidente e descobriram que
ela não os conhecia, não sabia seu nome nem o da sua esposa, do seu cachorrinho
de estimação ou de quais forças políticas eles eram representantes em seus
estados de origem.
Dilma nunca se elegeu vereadora, prefeita, governadora, deputada
estadual, deputada federal ou senadora. Foi alçada ao posto máximo da hierarquia
política brasileira através da imposição do seu nome pelo seu antecessor, sempre
demonstrando um total desprezo pela classe política, acreditando que eram um
bando de “picaretas” fisiológicos para os quais bastava oferecer posições e verbas
para aplacar sua fome de cargos e garantir sua lealdade.
Ela não chegou ao poder somente através do Partido dos
Trabalhadores, que geralmente se digladia por questões paroquiais e dificilmente
se entende nos assuntos onde deveria atuar com unidade.
Nem tampouco através do partido Comunista do Brasil, um
partido que tem relevância histórica, mas que tem baixa representatividade no eleitorado
nacional.
Apesar da sua aliança com o Partido Comunista do Brasil e
com o PDT – partidos que se mantiveram coerentes no apoio à atual administração
- sua chegada ao poder deveu-se
principalmente às alianças formadas ao centro e à direita do espectro político como
o PP, PR, PTB, PROS, PSD e, principalmente, com o PMDB, o Partido do Movimento
Democrático Brasileiro, no qual foi escolher o seu vice.
O PMDB é o partido com maior capilaridade eleitoral no país,
estando representado em praticamente todas as cidades brasileiras e que resolve
suas contradições internas com maestria, pois o poder é o café, almoço e jantar
da maior parte dos seus integrantes.
Bater de frente com este partido foi o principal erro
político do atual governo, pois raposas como Michel Temer, Eduardo Cunha ou
Renan Calheiros, não estão ali para brincadeiras no galinheiro.
Nos dias que antecederam a votação, a oferta de cargos em
troca de apoio (pelo governo e pelo vice-presidente) não foi nada mais do que
uma edição condensada da tragédia da nossa realidade política.
O resultado foi uma derrota acachapante, pois, sem
credibilidade, o governo não podia garantir a entrega dos cargos que negociava.
Esqueceram que um homem se vende sempre por muito menos do
que vale e espantaram-se quando se viram “traídos” por aqueles que já haviam
traído seus eleitores há muito tempo.
A presidente não foi derrubada.
Ela caiu em decorrência do desconhecimento que sempre a
caracterizou, olhando apenas para a sua própria versão de realidade, sem ver que
esta realidade é composta pela ação, reação e pensamento de milhões de pessoas.
Algumas centenas dessas pessoas, no entanto, têm direito a
mandatos legítimos que podem interromper o seu governo e colocar em sua cadeira
o vice que ela e seus correligionários escolheram para seus dois mandatos.
Mas se durante esses mandatos ela nunca despachou mais do
que uma única vez com vários dos seus 39 ministros, como esperar que ela fosse
conhecer o representante daquela cidadezinha do interior de Mato Grosso do Sul,
do Maranhão ou de Pernambuco?
O desconhecimento e a ignorância são danosos para qualquer
um que se arvore a dirigir uma batalha, uma guerra ou uma empresa.
Para quem ocupa a Presidência da República, esse
desconhecimento é simplesmente fatal.
"O Brasil não conhece os brasis".
ResponderExcluirE nós os contribuintes também não sabemos (santa ingenuidade) como se dão as alianças e o que está em jogo, qual a oferta.
Será que a presidente Dilma leu "A Arte da Guerra"? Sun Tzu o escreveu em 510 a.C., e é cada vez mais atual.
Santa ingenuidade²
Grata pela oportunidade de ler seus textos que tanto me clarificam sobre a política brasileira.
Abraço!
Obrigado por sua atenção, Canto da Boca.Espero sempre que meus textos sirvam para reflexão.
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