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segunda-feira, 11 de abril de 2016

O DEMO DA DEMOCRACIA




Há mais de dois mil anos os gregos definiram que a Democracia (Demo=Povo + Cracia=Governo) é o governo do povo, com o povo e para o povo.

Hoje em dia, porém, parece que temos uma democracia customizada, que pode ter um corte diferente, ser mais apertada nas mangas, mais solta nas pernas, mais comprida ou mais curta, com bolsos cada vez maiores e, de preferência, sempre ter as costas mais largas.

Churchill afirmava que ela era a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas; Millôr (sempre ele) dizia que nada garante que dez idiotas juntos decidam melhor que um idiota sozinho.

A Democracia exige que, como num condomínio, quem não compareceu à Assembleia Geral Ordinária ou que não aprovou ou não pôde impedir a aprovação de uma proposta, deve aceitar a decisão da maioria dos condôminos.

Mas se o síndico começar a fazer uma administração desastrosa, convoca-se uma Assembleia Geral Extraordinária e ele pode ser removido do cargo se a maioria assim decidir através de um processo que obedeça à sua Constituição, no caso, a Convenção do Condomínio.

Retirar Getúlio Vargas do poder em 1945 foi um ato democrático e patriótico, pois como podíamos ter ido lutar numa guerra contra os fascistas e aceitar um fascista na direção do nosso Condomínio Federal?

No entanto Vargas continuou com sua popularidade em alta mesmo durante seu exílio cinco estrelas no seu sítio de São Borja. Era criador dos dois partidos que representavam o empresariado (PSD) e os trabalhadores (PTB) e voltou carregado nos braços do povo através de uma eleição legítima em 1950.

Sem o poder do arbítrio, porém, perdeu as rédeas do poder, passou a ser questionado pela oposição da UDN (que representava as oligarquias alijadas do poder pelo golpe de 1930), restando-lhe como saída uma bala no peito para abrir o caminho da sua entrada na História.

Seria Vargas de direita ou de esquerda? Seria ele um democrata, um autocrata, um populista, um estadista, um demagogo, um líder popular ou apenas mais um dos ditadores daqueles tempos, como Fulgêncio Batista, Peron, Salazar, Franco, Hitler, Mussolini e tantos outros mais?

Getúlio era um produto da sua época e soube usar a força da comunicação (e da censura) a seu favor. Chegou ao poder através de um golpe (1930), tornou-se ditador através de outro (1937), foi afastado por mais um golpe (1945) e não soube lidar com os mecanismos democráticos que surgiram depois da Constituição de 1946.

O golpe de 64 foi fruto dos interesses de russos e norte-americanos na Guerra Fria após a adesão de Cuba ao Bloco Soviético e rasgou em pedaços a Constituição do Brasil para afastar PSD e PTB do poder, usando para isso a UDN e os militares remanescentes da Revolução Tenentista (já tornados generais) de 1930.

Os mesmos que haviam antes tentado derrubar Juscelino Kubitscheck, não o fazendo então porque as condições internacionais não estavam nem tranquilas nem favoráveis.

O processo de Impeachment de Fernando Collor, motivado por um escândalo de corrupção no valor de oito milhões de dólares (!) e um Fiat Elba, seguiu todos os trâmites estabelecidos pela Constituição de 1988, sendo ele afastado do cargo, perdendo seus direitos políticos por oito anos.

Nada mais natural que agora este ex-presidente se posicione a favor da ideia de que o processo de Impeachment é um golpe.

Se assim ficar provado, ele também teria sido vítima de um golpe e poderia até mesmo, em um momento de delírio, exigir o cumprimento do restante do seu mandato, o que não seria surpreendente na lógica absurda que atualmente parece nortear a política nacional.

A nossa Democracia é representativa e se não colocamos no Congresso Nacional representantes em quem podemos confiar, é problema de todos e responsabilidade de quem neles votou.

Agora não adianta chorar o voto derramado.

Seja qual for o resultado do processo de Impeachment ora em curso, não teremos tempos tranquilos, pois mesmo seguindo todos os trâmites legais, dificilmente o resultado da votação na Câmara e no Senado será aceito como sendo a expressão da vontade popular.

Às vezes a gente fica pensando se, na Democracia brasileira, o Demo não seria outro que não o povo... 

2 comentários:

  1. O horizonte que se vislumbra não é dos mais tranquilos, entretanto "alea jacta est".
    E que tenhamos nervos de aço (e não tempos de aço) e maturidade democrática, para sobrevivermos ao cataclisma político que se anuncia.

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  2. Como podemos apenas viver um dia de cada vez, estejamos atentos para que a democracia não se perca durante a travessia do Rubicão!

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